Interlúdio:
Abaixo a “tirania do ou”
(viva a “genialidade do e”)
“Você
verá que no resto do livro usaremos o símbolo yin/yang da filosofia dualista
chinesa. Escolhemos este símbolo para
representar um aspecto essencial das empresas altamente visionárias: elas não
se reprimem com aquilo que chamamos de “Tirania do OU”— o ponto de vista racional
que não aceita paradoxos, que não vive com duas forças ou idéias aparentemente
contraditórias ao mesmo tempo. A
“Tirania do OU” faz com que as pessoas acreditem que as coisas têm que ser da
forma A OU B, mas não das duas. Esta filosofia afirma coisas como:
- “Você
pode mudar OU ser
estável”.
- “Você pode ser conservador OU audacioso”.
- “Você
pode ter baixos custos OU qualidade”.
- “Você
pode ter autonomia criativa OU consistência e controle”.
- “Você
pode investir no futuro OU se sair bem a curto prazo”. (74)
“Empresas que prosperaram e conseguiram influenciar a sociedade
resolveram dicotomias como estas (75)”:
De um lado
|
E
|
Mas, por outro lado
|
Objetivo além do
lucro
|
E
|
Busca pragmática do
lucro
|
Ideologia central
relativamente definida
|
E
|
Mudança e movimentos
contínuos
|
Conservadorismo com
respeito ao núcleo
|
E
|
Ações audaciosas,
comprometedoras e arriscadas
|
Visão clara e senso
de direção
|
E
|
Tentativas
oportunistas e experiências
|
Metas audaciosas e
assustadores
|
E
|
Progresso evolutivo
e incremental
|
Seleção de gerentes
criados no núcleo
|
E
|
Seleção de gerentes
que induzem mudanças
|
Controle ideológico
|
E
|
Autonomia
operacional
|
Cultura
extremamente rigorosa (quase que uma devoção)
|
E
|
Capacidade de
mudar, progredir e se adaptar
|
Investimento a
longo prazo
|
E
|
Exigências de
desempenho a curto prazo
|
Filosófica,
visionária, futurista
|
E
|
Incrível execução
diária, detalhes práticos
|
Organização segue
uma ideologia central
|
E
|
Organização se
adapta ao seu ambiente
|
“Não estamos falando sobre o
simples equilíbrio. ‘Equilíbrio’ significa
chegar no meio termo, metade/metade. Uma
empresa, uma Ong, visionária não está em busca do equilíbrio entre o curto e o
longo prazo, por exemplo. O que ela quer
é se sair muito bem a curto e a longo
prazo. Uma empresa, um Ong, visionária
não chega simplesmente a um equilíbrio entre idealismo e lucratividade; ela
procura ser altamente idealista e
altamente lucrativa. Uma empresa, uma
Ong visionária não chega simplesmente a um equilíbrio entre preservar uma
ideologia central rígida e estimular a mudança e o movimento contínuos; ela faz as duas coisas ao extremo.
Em suma, uma empresa, uma Ong, altamente visionária não quer misturar o
yin e o yang, transformando-os num círculo cinza que não é muito yin nem muito
yang; ela quer ser claramente yin e
claramente yang – as duas coisas ao
mesmo tempo, sempre.
“Irracional? Talvez.
Raro? Sim. Difícil?
Definitivamente. Mas, como dizia
F. Scott Fitgerald, ‘O teste para uma inteligência fora do comum é a capacidade
de ter duas idéias opostas em mente ao mesmo tempo e ainda assim ser capaz de
funcionar.’ É exatamente isto que as empresas visionárias conseguem fazer”
(76).
Perguntas para reflexão:
1.
Quais
são algumas tensões criativas ou paradoxais que sua empresa, sua Ong, sua
Organização, procura manter... ou
deveria manter?
2.
Volta
à tabela acima. Marque em cada coluna
onde sua empresam sua Ong, sua Organização, é forte (+), mais ou menos (~) ou fraco
(-). Em quantas das 11 áreas você
considera sua empresa, sua Ong, sua Organização, forte em ambos os lados do
paradoxo?
3. Mais do que Lucros
“Um elemento fundamental para o
funcionamento perfeito de uma empresa, de uma Ong, de uma Organização
visionária, é uma ideologia central – valores centrais e um objetivo
além de simplesmente ganhar dinheiro – que orienta e inspira as pessoas em toda
a organização e permanece praticamente inalterada durante muito tempo” (80).
Ideologia Central: O Fim do Mito dos Lucros
“Assim como os ideais fundamentais de um
grande país, igreja, escola ou qualquer outra instituição duradoura, a
ideologia central de uma empresa, de uma Ong, de uma Organização visionária, é
um conjunto de preceitos básicos que plantam um pilar fixo no chão: ‘É isto
que nós somos; é isto que representamos; é isto que nos interessa’. ...a ideologia central é tão fundamental para
a instituição que muda raramente, quando muda” (88-89).
“A
LUCRATIVIDADE é
uma condição necessária para a existência e um meio de se atingir objetivos
mais importantes, mas não é o objetivo em si para muitas das empresas, Ongs,
Organizações visionárias. Os lucros são
o que o oxigênio, a comida, a água e o sangue, representam para o corpo; eles
não são o sentido da vida, mas sem eles não há vida” (90).
Packard, num momento de tremenda
explosão de crescimento de HP, lançou o discurso para a liderança da empresa
dizendo “Eu quero discutir por que
[grifo dele] uma empresa existe. Em
outras palavras, por que estamos aqui? ...O verdadeiro motivo da nossa
existência é fornecer algo singular [que contribui de alguma forma]” (91).
Johnson e Johnson, desde 1943,
expressaram sua ideologia num credo que se expressa em uma página, citada na
inteira no livro. O credo tem cinco compromissos. “Em primeiro lugar, temos uma
responsabilidade perante médicos, enfermeiras, hospitais, mães e todos aqueles
que usam nossos produtos (esta frase é seguida por quatro formas de expressar
isso). ... Em segundo lugar, temos uma
responsabilidade perante aqueles que trabalham conosco – os homens e mulheres
em nossas fábricas e escritórios (esta frase é seguida por nove formas de
expressar isso). ...Em terceiro lugar,
temos uma responsabilidade perante nossa gerência (seguido por critérios de
qualidade). ...Em quarto lugar, temos
uma responsabilidade perante as comunidades em que vivemos (seguido por seis
compromissos). ...Por fim, em quinto
lugar, temos uma responsabilidade perante nossos acionistas (seguido por dez
compromissos)” (94-96). Note bem: a
ideologia coloca lucros em último lugar, ressaltando o
compromisso não com os lucros em si tanto quanto os acionistas.
Existe uma Ideologia “Certa”?
“Nenhum item específico aparece
de forma consistente em todas as empresas visionárias. (106).
... Em suma, nós não
encontramos um conteúdo ideológico específico essencial para que uma empresa,
uma Ong, uma Organização, seja visionária.
Nossas pesquisas indicam que a autenticidade da ideologia e a
coerência da empresa com relação a esta ideologia contam mais do que o conteúdo
da ideologia” (107). A Tabela 3.1 indica
as ideologias centrais das empresas visionárias (págs. 107-112).
“As
empresas, as Ongs, as Organizações visionárias, não declaram uma ideologia por
declarar; elas também tomam medidas para que esta ideologia impregne
toda a organização e transcenda qualquer líder individual. Como vamos descrever em capítulos posteriores:
- As
empresas, as Ongs, as Organizações visionárias, doutrinam seus
funcionários, seus voluntários, de forma mais meticulosa com respeito a
uma ideologia central do que as empresas de comparação, criando culturas
tão fortes que passam a ser quase que uma devoção à ideologia.
- As
empresas, as Ongs, as Organizações visionárias, educam e selecionam
os membros da alta gerência com mais cuidado do que as de comparação, com
base na adaptação com a ideologia central.
- As
empresas, as Ongs, as Organizações visionárias, possuem um alinhamento
mais coerente em relação à ideologia central – em aspectos como metas,
estratégia, tática e projeto de organização – do que as empresas de
comparação” (112-113).
“É claro que nem sempre foi fácil
para as empresas, as Ongs, as Organizações visionárias, manter suas ideologias
e viver de acordo com elas. Jack Welch,
da GE, descreveu a dificuldade de viver com a tensão entre pragmatismo e idealismo ou o que ele chama de ‘números
e valores’:
“Números e valores. Nós não temos a resposta definitiva – pelo
menos eu não tenho. Aqueles que fazem os
números e compartilham nossos valores progridem e sobem. Aqueles que erram nos números e compartilham
nossos valores têm uma segunda chance.
Aqueles que não têm valores nem números – nem preciso dizer. O problema é com aqueles que fazem os
números, mas não compartilham os valores.
... Nós tentamos persuadi-los; nós lutamos contra eles; nós sofremos com
estas pessoas” (113).
Nenhum comentário:
Postar um comentário